É difícil apanhar o comboio ao pé-coxinho

A vida do valente Mantorras dava um filme. Mais precisamente, dava o filme da actual vida do Benfica. Estamos coxos, ninguém o esconde, todos o percebem. Se já é difícil fazer de oposição à maioria dragoneta com duas pernas, imaginem os caros sportinguistas e madeirenses o que será tentar tão monstruosa tarefa com apenas uma. O Benfica, quando se senta, demora meia hora a cruzar as pernas.

O angolano a quem o Bernardo arruinou a carreira – ou aprimorou, depende da perspectiva – está agora afastado dos relvados por “alguns meses”. Parece que o bravo e agora milionário treinador do Benfica decidiu que o Mantorras, para voltar a ser o Mantorras, tem de fazer treino específico durante algum tempo.

Isto sucedeu um dia depois do angolano ter marcado dois golos num jogo treino, em 45 minutos. Ninguém repetiu a façanha, nesse treino contra os juniores, e por isso eu concordo: afinal de contas, Mantorras que é Eusébio devia ter enfiado umas cinco bolas, no mínimo. Já o Adu que é Pelé ficou-se pelos 0 golos e 0 assistências, mas tal esforço fica bem na média do rapaz.

O Benfica está coxo. Tem avançados a mais e defesas a menos. Vai daí, a direcção contrata mais dois avançados, de créditos firmados: um para “lutar”, outro para “fazer chorar os adversários”. O primeiro nunca saiu da América do Sul; o segundo foi para França, jogou uns joguitos, fez uns centros, marcou um par de golos e ficou o resto da época na bancada. Acaba dispensado. Assina pelo Benfica.

É um trajecto normal para uma contratação de um clube coxo e mentecapto.

Estou mesmo muito desiludido com tudo isto. E desiludido é um gigantesco eufemismo.