Um e Outro

Um quer ganhar, faz tudo para ganhar, para ser o maior. Quando não ganha irrita-se, irrita os outros. Não sabe perder, nem tão pouco sabe ganhar. O outro ganha. Quando não ganha não esconde a tristeza. E quando ganha prefere a camisola do ídolo em vez da taça de campeão.

Para um a camisola que enverga é mais um meio para atingir o fim: a glória de ser o maior. Para o outro, ser o maior é mais um meio para atingir a glória da camisola que enverga.

Um tem um sorriso sebento quando ganha. Põe a língua de fora, levanta a cabeça, e espera ouvir bem alto o seu nome. Quando perde, irrita-se e culpa o resto de mundo. Porque perder é para os outros, não para ele.

O outro, sorriso de miúdo, chora quando perde e é capaz de felicitar com honestidade os adversários quando ganha. Consegue de dar um aperto de mão, ou aplaudir o guarda-redes por ter defendido um tiro seu. Corre, salta, exulta com os braços no ar quando marca. Quando cai sobre o relvado, é porque não consegue mesmo manter-se de pé. Não porque está perto da área, ou porque a equipa está muito longe, e precisa de ganhar a moderna “falta cirúrgica”. Tal como não precisa de pedir cartões para os adversários, ou humilhá-los com malabarismos inúteis, próprios de um artista de circo ou de um anúncio para uma marca desportiva.

Comparar as lágrimas de um com a irritação perfidamente arrogante do outro, é o mesmo que comparar o futebol “a preto e branco” dos anos 60 com o futebol “a cores” deste milénio.

Anda por aí, quem queira fazer passar a ideia que o Cristiano é o melhor jogador português de sempre. Anti-benfiquismo primário, sondagens encomendadas por um qualquer patrocinador, ou apenas mais um sinal dos tempos?

1 comentário:

Gp disse...

Apoiado!

Excelente texto. Os pontos nos is.

O Cristiano é e será sempre um fabuloso futebolista, não obstante a personalidade de cobra.

Seria o Eusébio apenas as lágrimas e cumprimentos que nos mostram as fotografias e vídeos dos 60 e 70? Não esqueçamos as casas de alterne ou o esbanjar inútil de dinheiro, cujas fronteiras estão evidentemente próximas do mundo CR...