É inevitável:


O Futebol Clube do Porto vai ser campeão. É evidente que têm o plantel mais rico: enquanto que no Benfica se destacam Simão Sabrosa, Miccoli e Katsouranis (e, a espaço, com intervalos para uma soneca, os senhores Nélson e Léo), e no Sporting os peões que mais se destacam são João Moutinho, Liédson e Tello (!), os Dragões têm trunfos em todo o lado.

É um Quaresma que, na liga, vale dois Simões; um Lucho que marca golos fenomenais e joga melhor que qualquer centro campista dos adversários; um miúdo de talento único, que infelizmente parece ter os ossos fraquinhos; um Postiga com uma sorte fenomenal (e que também marca golos muito bons de vez em quando); um Guarda Redes que treme nos cruzamentos mas parece quase imbatível nos remates de fora de área, frontais ou laterais, dentro da grande área, dentro da pequena área, aéreos; um Pepe que, embora esteja muito provavelmente a encontrar neste FCP o melhor momento que terá na sua carreira (porque os avançados em Portugal não são muito dados a atacar), está melhor que qualquer central dos amigos da Capital; e um banco que tem jogadores fenomenais como Ibson ou Raúl Meireles.

Mas os jogadores do Porto não explicam tudo. Aqui o Delgado não concordará comigo, mas afirmo-o sem preconceitos: faz confusão a forma como algumas equipas fazem a vénia aos campeões e entregam as armas ainda nos balneários. Pisam a relva do Dragão e ainda têm enfiadas nas patarras as botinhas de dormir que a mãmã lhes fez, para os dias em que sabem que vão ter medo, muito medo. São botinhas com um anjinho para dar sorte, e uma borracha para não escorregarem na relva; mas depois têm de permanecer o mais perto da sua área possível, jogar com o máximo de jogadores altos e fortes e com troncos largos, mas pernas tortas, porque assim conseguem dar mais porrada e talvez se evite o medo; geralmente abrem sempre um espacinho, depois o Quaresma faz a sua magia, a bola bate no Postiga - e entra.

É golo do Porto. Depois seguir-se-á outro, muito inevitavelmente. Mas não é por isso que entram avançados, não é por isso que as equipas se vão aventurar; estão contentes porque nem é muito mau ter medo frente às riscas azuis e brancas.

E isto também sucede fora do Dragão. Com o Benfica e o Sporting vê-se outra atitude, que começa logo nos treinadores. Terei de fazer uma pequena análise de conteúdo, para a qual não tenho tempo agora; mas se escutarmos ou lermos com atenção o que os treinadores portugueses deste campeonato quase todo português dizem antes dos jogos com os três maiores do País, é fácil chegar a uma conclusão. Se é o encarnado que se segue, até o Jesus acredita na vitória; e se Jesus acredita, então o Silas também acredita. E um gajo albino de olhos vermelhos, alto e musculado, semi-grotesco, que se auto-flagela e martiriza, é um bom motivo para o Nélson começar a falhar cruzamentos e o Nuno Gomes ter receio de meter o pé.

Mas seja o Porto a sair das cabines e pelas mangas de entrada no relvado que o Silas transforma-se num tipo baixinho, moreno e fraquinho. Muito fraquinho.

A única solução que me parece plausível para que as águias causem medo aos coelhos deixei-a já perto do início do texto, antes da abertura e depois do título. O Benfica tem de deixar-se de merdas e ir buscar o Tsubasa. Queremos ver golos que rebentam as redes; no Porto não há ninguém que rebente com as redes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo em quase tudo o que o Gui disse.Apenas discordo na questão do medo. As outras equipas tem noção da dimensão e sabem que não podem ir ao Drgão jogar de igual para igual, olhar o FC Porto nos olhos e enfrenta-lo sem medo. O desnível entre as individualidades e mesmo os colectivos é notório. Eu não censuro o técnico que tenha uma atitude mais defensiva quando se joga com os dragões. Sabe que se a estratégia resultar e se o FC Porto não for capaz de esplanar o seu futebol, conseguirá pontuar. Mas enfrentar e jogar de igual para igual com a equipa de Jesualdo parece-me uma atitude suicida. Pode resultar. Mas mais são as vezes em que fracassará.
Já agora, bem-vindo de volta a postagem. Espero que sejas regular.
Ab.